Postagens

Homem-Grilo por Pablo Mayer

Homem-Grilo por Pablo Mayer Confiram esse sensacional desenho do Homem-Grilo feito pelo Pablo Mayer. E o Pablo publicou recentemente em parceira com o Diogo Cesar uma álbum de quadrinhos chamado A Casa ao Lado. Apesar deles serem traidores do movimento, o álbum é bem legal e vale uma conferida. E se você quer fazer ou já fez um desenho do Homem-Grilo, envie para mim que terei o maior prazer de adicioná-lo a galeria do personagem.

Homem-Grilo Livre para uso Comercial

Como vocês já sabem, o Homem-Grilo está, desde 2003, licenciado sob Creative Commons. A licença do Homem-Grilo permite que você possa copiar e distribuir livremente as histórias em quadrinhos dele, assim como criar obras derivadas, contanto que você dê os créditos aos autores originais. No entanto, a licença não permitia que você pudesse fazer uso comercial das obras derivadas. Até agora.

A nova licença Creative Commons do Homem-Grilo libera o uso comercial das obras derivadas. Isso quer dizer que a partir de agora você não só pode utilizar o Homem-Grilo em suas próprias obras criativas, como também pode vendê-las e comercializá-las sem com isso estar infringindo meus direitos autorais.

Tomei essa decisão de liberar o uso comercial do Homem-Grilo por um simples motivo, permitir que outros criadores possam lucrar com o meu personagem. Muitos autores, sobretudo os independentes e fanzineiros, mesmo sabendo que o Homem-Grilo estava sob Creative Commons, ficavam meio receoso de usar o meu personagem, pois não sabiam se eu iria implicar pelo fato de eles estarem vendendo uma obra com o Homem-Grilo.

Tá certo que a maioria dos fanzineiros não visam lucrar com seus fanzines, sendo que o valor da venda é apenas para cobrir os custos de produção, mas há aqueles que visam sim o lucro. E ainda mais hoje em dia em que o número de revistas independentes produzidas em gráficas tem aumentado. Para esses produtores, é essencial que o valor final da revista seja para obter lucro e não apenas cobrir o custo de produção, pois do contrário seria impossível manter a continuidade das edições. Pois bem, agora com a nova licença Creative Commons do Homem-Grilo, esses produtores independentes não precisam ficar mais receosos de usar o personagem (e isso também vale para os não-independentes).

Certamente alguns de vocês devem estar pensando: “Mas que cara idiota, ele deixa que os outros lucrem com o seu personagem sem ganhar nada em cima”. Mas se você pensa deste jeito (aliás, um pensamento bem retrógrado), está muito enganado. De fato não estarei ganhando nada diretamente, mas em compensação estarei ganhando muito de forma indireta, pois cada vez que alguém usa meu personagem para criar uma obra, seja outras histórias em quadrinhos, peças de teatro, animações, jogos de rpg, etc, o Homem-Grilo estará cada vez mais ganhando valor. E isso acontece pois estará sendo criado uma mitologia em volta do Homem-Grilo (e para entender o sentido exato da palavra mitologia usada aqui, recomendo a leitura do meu artigo O que é mito? O que é Mitologia?). E todo esse valor agregado ao Homem-Grilo, eu poderei explorar em acordos comerciais de minhas própria obras criadas com o personagem.

Mas aí alguns de vocês também podem perguntar: “Legal, mas e quanto a mim, o que ganho ao usar o seu personagem em minha obra?”. Bem, para começar, você já ganha uma boa base de leitores que o Homem-Grilo possui e que conquistei nesses quase oito anos em que o personagem é publicado, seja aqui no site, ou em fanzines e revistas em quadrinhos. E quanto mais gente criando obras com o Homem-Grilo, mais essa base de leitores (ou espectadores, dependendo do tipo de obra) vai aumentando, beneficiando a todo mundo.

Por fim, ao liberar o uso comercial do Homem-Grilo, espero também estar incentivando outros criadores a fazerem o mesmo com seus personagens e suas obras. Como diz Lawrence Lessig (criador da Creative Commons) em seu livro Cultura Livre: “Os criadores aqui e em todo lugar estão sempre e o tempo todo construindo em cima da criatividade daqueles que vieram antes e que os cerca atualmente”.

Ou seja, ele toma como base a máxima de que não existe obra 100% original, pois ninguém cria nada do nada, tudo é referência. Sendo assim, se todos adotarem a licença Creative Commons, estaremos colaborando cada vez mais para o retorno de uma cultura livre, como era por exemplo na grécia antiga, onde um dramaturgo poderia criar livremente uma tragédia em cima de um poema já feito, que por sua vez poderia ser usada pra criar uma escultura ou uma pintura, e todos eles estavam amparados pela cultura popular das narrações míticas. E essa criação mútua foi justamente o que colaborou para a riqueza da cultura helênica que persiste até os dias de hoje.

Diferente do que acontece atualmente, por exemplo, em que uma empresa como a Disney, que se utilizou amplamente de obras populares e de domínio público para criar suas animações, mas agora na hora de liberar suas próprias criações para que outros criadores possam também criar com elas, fica fazendo lobby para ampliar a duração do tempo de direito autoral e tornando a lei cada vez mais restritiva. Lei essa que de autoral mesmo, já não tem mais nada, já que ela é atualmente utilizada para proteger os interesses das grandes corporações e não dos autores de fato.

E ao liberar o Homem-Grilo sob Creative Commons, estou permitindo que qualquer um possa usar o Homem-Grilo e criar diferentes obras com ele, ao contrário do que acontece com Super-Homem, em que nem mesmo os herdeiros de seus próprios criadores podem usá-lo livremente.

Palestra sobre Produção Independente

Se você mora em Osasco ou na região oeste da grande São Paulo e curte quadrinhos, já tem um programa para amanhã. Eu e alguns companheiros do Quarto Mundo iremos fazer uma palestra sobre produção de quadrinhos independente no Sebo Multiverso (Avenida João Batista, 104), como parte das atividades da 3º Feira de Quadrinho e Arte.

Além disso, vocês poderão conferir os quadrinhos à venda na loja que terão desconto de até 60%, tanto nacionais quanto importadas. Eis uma boa chance de adquirir aquela hq que está faltando na sua coleção por um bom preço. Então, vejo vocês lá! =)

Das Tiras de Jornais as Webcomics

Antes de mais nada, quero avisar que este post é a minha pequena contribuição a Blogagem Inédita promovida pelo Interney (o “William Hearst” da blogosfera brasileira). A proposta dessa “blogagem coletiva” é mostrar que a blogosfera é tão capaz de produzir conteúdo inédito quanto os jornais, e que os blogs não são apenas meros replicadores de notícias (apesar de haver muitos assim). Isso é claro, tendo sempre e mente a máxima de “na Natureza nada se cria…” Pois bem, apesar do blog do Homem-Grilo não ser exatamente um blog jornalístico, resolvi participar da Blogagem Inédita pois produzo aqui no meu blog um conteúdo original dentro de uma forma de arte que desde os seus primórdios sempre esteve intimamente ligada aos jornais, que são as histórias em quadrinhos. Tanto que é difícil separar a evolução histórica dos quadrinhos da própria evolução da mídia impressa, ao ponto de hoje em dia a migração de ambas para esse mundo virtual da Internet estar acontecendo quase que no mesmo ritmo. Indiferente de quem tenha sido o pioneiro das histórias em quadrinhos, se foi o ítalo-brasileiro com a série Nhô Quim, lançada em 30 de janeiro de 1869, ou se foi com seu , lançado em 1894, é ponto consensual que os norte-americanos foram os primeiros a desenvolver um verdadeira indústria em torno da chamada nona arte. E tudo começou lá, nos jornais, primeiramente com as tiras diárias, e num segundo momento, com as páginas dominicais, que tinham esse nome pois os quadrinhos eram publicados nos suplementos infanto-juvenis que vinham junto com os jornais aos domingos, e em geral possuíam um formato tablóide. As primeiras revistas em quadrinhos propriamente ditas só apareceram no começo do século XX, e ainda assim, não continham material inédito, e serviam apenas como compilação das tiras já publicadas nos jornais. O nome que os norte-americanos deram a essas revistas, comic books, vem justamente do fato dessas primeiras tiras apenas conterem conteúdo humorístico. As tiras de aventuras só iriam surgir por volta da década de 20, influenciadas pelas . No começo não havia um formato padrão para as revistas em quadrinhos, apesar da maioria seguir o formato tablóide por justamente serem compilações das tiras de jornais e dos suplementos dominicais. E foi por causa desse suplementos, que foi travada uma verdadeira guerra entre os dois magnatas da impressa na época, , dono do Morning Jornal, e , do New York World. Ambos perceberam que os suplementos, e os quadrinhos publicados neles, atraiam uma grande quantidade de leitores para seus jornais, e por tabela, isso também atraia os anunciantes. Então não foi poucas às vezes em que um tentou passar a perna no outro, “roubando” o cartunista que publicava no jornal do outro para seu próprio jornal. Para acabar com essa bagunça toda foi criado os syndicates, que nada mais são do que agência responsáveis por contratar os cartunistas e distribuir suas tiras pelos diversos jornais nos EUA. Desta forma, os syndicates conseguiam vender as tiras dos jornais a um preço muito barato, permitindo que elas pudessem ser compradas tanto pelo grandes jornais quanto pelos de pequeno porte. Esse mecanismo, no entanto, se tornou uma faca de dois gumes. Por um lado, beneficiou o cartunista que viu seus ganhos aumentarem com suas tiras sendo publicadas por cada vez mais jornais, até mesmo de outros países, mas por outro, esse cartunista foi perdendo paulatinamente a sua liberdade autoral, e aqueles que não se encaixavam no esquema dos syndicates, dificilmente conseguiam trabalho. E para esse quadrinistas mais autorais (ou não tão mainstreams), esse é um cenário que perdurou até os dias de hoje, e só começou a se modificar no início deste século, com proliferação da Internet comercial, e o surgimento das primeiras . A Internet para esses quadrinistas surgiu como uma terra prometida onde antes não havia espaço para publicarem seus trabalhos, tendo em vista que os jornais nos EUA estão cada vez mais diminuindo seus espaços para tiras e quadrinhos, e para os novatos, a situação é mais crítica ainda pois eles não conseguem ter seus trabalhos aceitos pelos syndicates. A Internet então propiciou que tiras com temas extremamente específicos e que muito dificilmente teriam entrada em jornais impressos, como videogame, rpg e cultura nerd em geral, se tornassem grande sucesso de público, e permitiu que seus autores pudessem ganhar dinheiro e produzir seus quadrinhos de forma independente, sem precisar estar ligado a um syndicate ou até mesmo a uma editora. Assim, encabeçado por caras como Dave Kellet, Brad Guigar, Kris Straub e Scott Kurtz, as webcomics começaram a se espalhar pela Internet numa quantidade absurda, e muitas, possuindo uma qualidade excelente. Aliás, não por acaso esses quatro autores se reuniram para escreverem um livro onde relatam suas experiências, chamado How To Make Webcomics. Já aqui no Brasil as webcomics ainda não estão tão difundidas como lá fora, apesar de a situação para o quadrinista brasileiro que vai tentar publicar de forma impressa ser até mais adversa do que lá nos EUA, dado que aqui não apenas não há mais espaço para novos cartunistas nos jornais (seja os grandes ou pequenos) como também nunca tivemos de fato um mercado de quadrinhos nacional que acolhesse os profissionais brasileiros (tanto que pra fazer sucesso, os desenhistas são obrigados a trabalhar pro mercado externo). Mas pouco a pouco esse cenário vem mudando e o número de webcomics brasileiras vem aumentando progressivamente. Uma das webcomics tupiniquins de maior sucesso é com certeza os Malvados de André Dahmer, mas existem também outras muito boas, como vocês podem conferir nas indicações que faço no meu blogroll “Quadrinhosfera” na coluna a direita. E termino esse post com uma pergunta: quem sabe não esteja nas webcomics, a saída para que se crie finalmente um mercado de quadrinhos brasileiros que não se limite apenas a turma da mônica, hein?